(Camille) De: George Cukor, Com: Greta Garbo, Robert Taylor, Lionel Barrymore, Elizabeth Allan, Henry Daniell, Lenore Ulric, Laura Hope Crews, EUA – Melodrama – P&B – MGM – 1936.
Rose Alphonsine Plessis (1824-1847) nasceu em uma família
pobre no interior da França no inicio do século XIX. Filha de um camponês
alcoólatra, Plessis tornou-se órfã de mãe ainda muito cedo, ficando a mercê de
seu irresponsável pai até 1838, ano em que decide se mudar para Paris onde passa
a trabalhar de costureira. Ambiciosa, bonita e cada vez mais atraindo
“pretendentes”, a jovem de pouco mais de quinze anos não demorou muito tempo até
se tornar Marie Duplessis, uma das
mais famosas cortesãs de luxo da capital Francesa. Sempre presente nas mais altas rodas de Paris,
Duplessis teve entre seus “clientes”, nobres como o Duque de Guiche e o velho Conde
de Stackelberg, que por muitos anos foi seu protetor, sustentando-a com
todas as pompas e riquezas necessárias. Após
completar vinte anos, Marie Duplessis conhece em um teatro parisiense um jovem
que de longe se distinguia de seus habituais clientes; Bonito, refinado e
distinto, o rapaz em questão era Alexandre
Dumas Filho (1824-1895), filho ilegítimo do renomado escritor frances Alexandre Dumas (1802-1870), autor dos best-sellers publicados em 1844 “O Conde de Monte Cristo” e “Os Três Mosqueteiros” . Dumas Filho é
mencionado como “filho ilegítimo” pelo fato de ter sido fruto de um dos
diversos casos extraconjugais de Dumas Pai, que só o reconheceu legalmente em 1831.
Sua mãe, vale ressaltar foi uma costureira chamada Marie Catherine Labay e hoje, pouco se sabe sobre ela.
|
Olympe, Marguerite e Prudence; Troca de farpas |
O amor entre Alexandre Dumas Filho e Marie Duplessis foi sincero e intenso, apesar disso, o romance entre os dois não durou muito tempo. Em 1845, Dumas Filho escreve a Marie propondo o fim do relacionamento, o motivo segundo ele fica evidenciado através de um trecho da referida carta onde o romancista diz: “Minha Cara Marie, não sou rico o suficiente para amá-la como eu gostaria, nem pobre o suficiente para ser amado como você gostaria que eu fosse”. Após ser abandonada por Dumas Filho, Duplessis, já sofrendo de tuberculose, segue para a Inglaterra onde se casa convencionalmente com o Conde Èdouard de Perregaux. O casamento dura pouco tempo, infeliz e cada vez mais enferma, Duplessis volta para a capital francesa e para a antiga vida, até morrer, pobre e sozinha em 03 de fevereiro de 1847, com então vinte e três anos. Ao tomar conhecimento da morte da antiga paixão, Dumas Filho, que nessa época seguindo os passos do pai escrevia seus primeiros romances, inspirou-se em sua própria história de amor para escrever aquela que se tornou sua obra-prima; La Dame Aux Camélias.
|
As Cortesãs "caçam" nos teatros de Paris |
Publicado pela primeira vez em 1848 o romance A Dama das Camélias teve sucesso imediato. Além do êxito literário, a obra também fez muito sucesso no teatro de Vaudeville, onde foi adaptada pelo próprio autor em 1852. No ano seguinte, o compositor italiano Giuseppe Verdi (1813-1901) baseando-se na história de Marguerite Gautier, compõe a ópera La Traviata, que hoje é considerada por muitos, uma das maiores óperas de todos os tempos. Desde que estreou nos palcos de Paris em 1852, a peça A Dama Das Camélias por muito tempo continuou sendo exibida em diferentes edições ao redor do mundo. Só na Broadway, segundo consta, foram mais de dezesseis versões. As principais atrizes da época (primeiras décadas do século XX) desejavam interpretar Gautier e esse privilégio foi alcançado por nomes como Sarah Bernhardt (1844-1923), Eleonora Duse (1858-1924) e Tallulah Bankhead (1902-1968). Entre todas as versões de A Dama das Camélias para o teatro, sem dúvidas as edições com Sarah Bernhardt foram as mais notórias. A atriz, que também interpretou Marguerite Gautier nos primórdios do cinema, (num filme de 1912) se apresentou em Paris, Londres, Nova York e até mesmo no Rio de Janeiro, para um seleto público que incluía o imperador Dom Pedro II.
|
Cartaz da temporada 1905-1906 da peça "Camille" com a atriz Sarah Bernhardt |
Além dessa já citada versão cinematográfica de 1912, A Dama Das Camélias também foi levada as telas inúmeras vezes. A primeira delas, em 1907 sob a direção de um certo Viggo Larsen (1880-1957). Ao Todo foram doze filmes, destacando-se entre eles a versão de 1921 com Nazimova (1879-1945) e Valentino (1895-1926) e a de 1936 com Greta Garbo (1905-1990) e Robert Taylor (1911-1969). Garbo, com seu contrato renovado na Metro Goldwyn Mayer desde 1932 e podendo escolher a dedo os diretores e atores com quem trabalhar, vinha de uma sucessão de sucessos que incluía Mata Hari (1931), Grande Hotel (1932), Rainha Christina (1933) e Anna Karenina (1935). A atriz, que desde 1930 não recebia uma indicação sequer ao Oscar, tinha a oportunidade de brilhar como nunca interpretando Marguerite Gautier sob a direção do mestre George Cukor (1899-1983) no novo filme do estúdio das estrelas. A Dama Das Camélias era a grande aposta para o ano. Reunidos, grandes nomes como Cukor, Garbo e Barrymore prometiam mais um arrasa quarteirões. Para o elenco de apoio foram convidados nomes de peso como Robert Taylor, que acabara de brilhar no sucesso Sublime Obsessão (1935) e Henry Daniell (1894-1963) que anos mais tarde se imortalizaria em alguns filmes de Sherlock Holmes, em O Grande Ditador (1940) e O Gavião do Mar (1940).
|
Marguerite Gautier e Barão de Varville |
A trama original foi mantida, ao contrário do que
havia acontecido em 1921 na versão produzida pela extravagante Nazimova. Paris,
1847; Marguerite Gautier (Garbo) é uma famosa e disputada cortesã que, apesar
de doente, esta acostumada a viver regaladamente no luxo e na boa vida oferecida
por seus amantes. Sempre acompanhada por Prudence (Crews), em uma de suas
diversas idas e vindas aos teatros e salões da capital francesa, Gautier conhece
o jovem Armand Duval (Taylor), rapaz humilde e distinto que passa a cortejá-la
insistentemente com sinceras juras de amor. Diante das investidas, Marguerite
acaba se rendendo aos encantos de Armand e os dois iniciam um tórrido romance.
No entanto, quando Monsieur Duval (Barrymore) descobre o relacionamento do
filho, preocupado com a imagem e com o futuro desse, procura Marguerite e exige
que ela o deixe. Marguerite, diante da triste situação, pensando no bem do
rapaz, o abandona e volta para os braços do milionário e arrogante Barão de
Varville (Daniel). O melodrama, que
estava em seu ápice nos anos trinta, nunca foi tão bem representado. Ao lado de
Ninotchka (1939), A Dama Das Camélias
é sem dúvidas o melhor filme de Greta Garbo.
Muito bem produzido, a produção da MGM chama a atenção por seu requinte
e por sua riqueza de detalhes. A direção de arte e os figurinos é um dos pontos
altos do filme, assim como o roteiro, assinado por Zoe Akins (1886-1958), Frances
Marion (1888-1973) e James Hilton
(1900-1954) que vale ressaltar, foi o autor das obras Horizonte Perdido (1933) e Adeus
Mr. Chips (1934), levados às telas em 1937 e 1939 respectivamente. A trilha sonora, que ficou a cargo de Herbert Stothart (1885-1949), é
inesquecível e tocante. Stothart, que já havia musicado grandes sucessos como O Fantasma da Ópera (1935) e Anna Karenina (1935), hoje é mais
lembrado por ter sido o vencedor do Oscar de 1940 por seu magnífico trabalho em
O Mágico de Oz (1939). As
coadjuvantes Laura Hope Crews (Prudence) e Lenore Ulric (Olympe) roubam a cena,
trazendo momentos cômicos à pesada e melancólica trama. Para os amantes dos
filmes românticos, A Dama das Camélias é essencial. Cinema de alto padrão, puro
e original. Obra prima dos bons tempos que não voltam mais.
✩✩✩✩
|
A aproximação de Marguerite e Armand |
|
E a Consumação de um verdadeiro romance |
|
Após os desentendimentos, uma tentativa frustrada de reaproximação |
|
Armand e Barão de Varville; Disputas no jogo e no amor |
|
Marguerite cada vez mais enferma é amparada por seu eterno amor |
|
Garbo! |
|
Robert Taylor em foto publicitária |
|
Cartaz original do filme |
Olá Jefferson,
ResponderExcluirEu nunca assisti a nenhuma das versões, confesso que fiquei conhecendo a história dela através de seu texto. Gostei da excelente introdução na qual você resumiu a história real e da menção às outras adaptações.
Fiquei curioso para assistir a de 1936...
Abraços
Interessante a imitação que fizeram do final desse filme nos últimos capítulos da novela Esperança, com a personagem da Gabriela Duarte.
ResponderExcluirSabe que eu também nunca assisti a nenhuma versão de A dama das Camélias? Uma vergonha!
ResponderExcluirUm dos melhores momentos dessa grande atriz no cinema.
ResponderExcluirExcelente filme, o favorito da própria Garbo. não há o que acrescentar à sua excelente resenha.
ResponderExcluirUm detalhe: Robert Taylor nunca esteve em O Grande Ditador. Será que o filme de 1940 que você queria citar não era A ponte de Waterloo?
Abraços!
A referência é a Henry Daniell (Barão de Varville) que no Ditador interpretou o assessor de Adenoid Hinckel.
ExcluirObrigado pelos vossos comentários Bruno, Gilberto, Marcelo, Lê e o ilustre amigo do Bússola do Terror.
ResponderExcluirSeus comentários são de extrema importância para mim e para o blog.
Lê, quanto a sua colocação, realmente Robert Taylor nunca esteve em O GRANDE DITADOR, se você reler a frase, percebera que me refiro a Henry Daniell, informando que ele brilhou em filmes de Sherlock Holmes, O Grande Ditador e O Gavião do Mar... Deve ter te passado despercebido esse detalhe no momento da leitura, o que de fato, é mais do que normal.
Grande abraço a todos!
Adoro esse filme da Greta Garbo e me lembro que quando comprei o box (muito bom por sinal), esse foi o primeiro que vi. E pra minha surpresa, tinha até a versão de 1921, que é excelente também. Mas vamos a sua resenha; eu já estava ciente que você faria um post sobre esse filme e por isso fiz questão de vir até aqui conferir. Você como sempre, selecionando as melhores imagens e buscando curiosidades,muitas vezes desconhecidas pelos seus leitores. Excelente post!
ResponderExcluirAMEI teu blog!
ResponderExcluirUma das maiores interpretações femininas da história do cinema. O riso cínico de Marguerite ao ouvir o desesperado Duval batendo na porta de forma contundente até hoje repercute na minha lembrança...Cruel. É verdade que o escrito de Dumas Filho não é grande coisa. Lucíola de Alencar lhe é muito superior enquanto literatura. Mas o filme nesse caso é maior que a obra que lhe deu origem. Bela postagem meu amigo. Parabéns.
ResponderExcluirEu gosto mais da versão com a Alla Nazimova, que aliás, veio como bônus no DVD do filme com Garbo.
ResponderExcluir