terça-feira, 10 de abril de 2012

"A Triste Vesperal do Cine Oberdan"

Hoje, 10 de abril completam-se 74 anos da maior tragédia ocorrida em um cinema paulista, a tragédia do Cine Theatro Oberdan.


Inicio do século XX, mais precisamente final da década de 1920, corria o ano de 1927 quando foi inaugurado pelos irmãos Taddeo da Sociedade Italiana Leale Oberdan, o mais luxuoso cine theatro de São Paulo, o “Cine Theatro Oberdan”, que logo passou a ser chamado somente de Cine Oberdan. O nome Oberdan é uma homenagem dada a Guglielmo Oberdan, um famoso anarquista italiano cujo camafeu com seu rosto pode ainda ser encontrado na fachada lateral do prédio. Localizado a altura do número 95 na rua Ministro Firmino Whitaker (antiga Chavantes, número 07) em junção com a Saião Lobato no bairro do Brás, o cinema destacava-se em meio às demais construções de sua época por sua imponência e luxo. Com seu enorme interior (mais de 1.200 lugares) repleto de grandes estatuas, o teto todo ornamentado em azulejos vindos de Portugal e com suas escadarias ostensivas, o Cine Theatro vivia lotado da mais alta sociedade paulista, tanto em suas sessões noturnas quanto nas vesperais. Mesmo com concorrentes a altura, como o notável Cine Metro, o Oberdan reinava absoluto entre os maiores cinemas de São Paulo, reinado esse que foi ocasionalmente prejudicado depois de uma enorme tragédia ocorrida em 1938, onze anos após sua inauguração.


O Cine Theatro Oberdan no inicio dos anos 1930



Domingo, 10 de abril de 1938, era pouco mais de 15:00 horas quando iniciava a vesperal do Cine Oberdan; o espetáculo trazia além dos seriados Agente Secreto X-9 e Ameaças da Selva, que eram as grandes sensações da criançada, os filmes Astúcia Contra a Força e a grande atração Criminosos do Ar, de Charles C. Coleman. Completamente lotado, 1.200 ingressos foram vendidos, sendo a maior parte deles destinados a petizada. Talvez o que para muitos ali presentes significava mais um final de semana trivial, para outros era uma novidade estar adentrando pela primeira vez naquele magnificente “Theatro”. O mais triste porém, é saber que para mais de 30 pessoas aquela estava sendo definitivamente a última sessão de cinema.


Em Cartaz "Criminosos do Ar" de Charles C.Coleman


Mas o que aconteceu afinal? Qual foi a tragédia que destruiu famílias e manchou definitivamente a fama e a ostentação do majestoso cinema? Pois bem, segundo consta, existem duas versões que explicam o confrangedor incidente. A primeira delas diz que próximo do final do filme em uma determinada cena onde dois aviões se chocam ocasionando uma explosão, em meio ao barulho e a ação do filme ouve-se na platéia gritos de fogo!! fogo!! Nesse momento, o público diante de grande temor, imaginando que se tratava de um incêndio, parte em disparada rumo às saídas (que não eram mais que duas, já que na época não havia a preocupação em se ter saídas de emergências) que se davam através das ostensivas escadas. O pânico e o desespero que tomou conta das crianças e adultos fizeram com que a cordialidade e o cavalheirismo desaparecessem e em um verdadeiro ato de salve-se quem puder iniciou-se uma triste e fatal cena. 


Uma rara foto interna do cinema comprova sua dimensão

Atropeladas enquanto a multidão freneticamente corria de algo que não existia, diversas crianças eram pisoteadas e lançadas escadas abaixo resultando em pouquíssimos minutos um verdadeiro massacre. Até tomarem conta de que não havia incêndio algum a loucura já estava feita e somente com a chegada do socorro pode-se perceber o tamanho da desgraça. O chão do majestoso Hall de entrada do Cine Theatro Oberdan encontrava-se abarrotado de sangue e cadáveres; cerca de 30 crianças e uma única mulher adulta que morreu pisoteada quando na tentativa de salvar seu pequeno bebe deitou-se no chão cobrindo-o com os braços.

As apertadas escadas de acesso as saídas e os vestígios do desespero
"Vestígios do desespero"
Triste: Diversas crianças perecem

O chefe de policia da época, o Sr. Brasiliense Carneiro assim que constatou a seriedade da ocorrência tratou de pedir a urgente remoção das vitimas e feridos do lugar encaminhando-os respectivamente para o necrotério do Araçá (no cemitério da Quarta Parada) e para a santa casa de São Paulo. Em seguida, fechou até segunda ordem o cinema para a realização da pericia. O impacto da tragédia foi de tão grande repercussão que sensibilizou toda a capital. Os jornais Folha da Manhã, Folha da Noite (atual Folha de São Paulo), Estado de São Paulo e Correio Paulistano deram completa cobertura a tragédia levando a população detalhes minuciosos do ocorrido.

Nota nos jornais anunciavam o fechamento temporário do Cinema
Jornal "Folha da Noite" do dia 11 de abril de 1938 noticia a tragédia
Jornal "Correio Paulistano" de 12 de abril de 1938
Mesmo dias após a tragédia, noticias continuavam sendo publicadas 


A pericia realizada no interior do prédio e os relatos dos sobreviventes que presenciaram o fato levaram a policia técnica a chegar a uma outra versão sobre o que realmente aconteceu naquele fim de tarde. Essa, portanto ficou definida como sendo a versão verdadeira do incidente: Um menino que se encontrava na platéia sentindo fortes dores de barriga tenta o auxilio de um lanterninha para se dirigir até o banheiro, não encontrando nenhum, ele segue sozinho até o mesmo. Sem ter tempo de chegar, ele acaba por fazer parte de suas necessidades no caminho, e ao encontrar-se nos sanitários, para sua surpresa, as luzes estavam desligadas. Não tendo como se limpar no escuro o menino decide atear fogo em um pequeno pedaço de jornal, e estando com a porta entreaberta, desperta nesse momento a atenção de alguém que imediatamente diante das pequenas chamas alarma o incêndio.


O banheiro onde foram encontradas provas dos relatos
A Calça do petiz confirma os fatos

Diversas famílias foram arrasadas diante da triste situação. Alguns pais nunca se conformaram em perder de maneira tão brusca seus pequenos filhos. Conta-se que uma mãe lamentou até seus últimos dias de vida (no inicio dos anos 80) o fato de ter contrariado o filho Enrico Mandorino que desejava ir ao Jóquei Club da Mooca naquela tarde, e ela não permitindo, sugeriu que o mesmo sossegasse passando à tarde na vesperal do cinema. Outro caso mais triste ainda foi o dos Pricolli que perderam dois filhos na tragédia, os pequenos Walter Pricolli de 12 anos e Pedro Pricolli de 8. O poder público do estado ao notar que grande parte das famílias não se encontrava em condições financeiras de realizar o funeral de seus entes queridos, decide pagar todas as despesas e fazer a última homenagem de forma coletiva. Nesse triste dia a associação comercial juntamente com a federação das indústrias e os sindicatos dos empregados de São Paulo decidem decretar luto oficial, parando completamente a cidade. A multidão que acompanhou as exéquias, segundo relatos dos jornais, foi gigantesca, todos se encontravam destroçados diante do horrendo acontecimento. 


Foto do Correio Paulistano registra a multidão que se concentrou
minutos após a tragédia na frente do Cine Oberdan
Em meios aos curiosos, estacionam os carros funerários
O Desespero toma conta de diversos familiares presentes no local
Moça não se contem diante do suposto irmão morto
No necrotério do Araçá corpos são reconhecidos
Forte: Pai desolado despede-se do pequeno filho
Forte: As Vítimas no necrotério do Araçá
Forte: O Trágico resultado do frenesi ocasionado por nada
Funeral de algumas vítimas no cemitério da Quarta Parada
Assustados, três sobreviventes, ainda no hospital,
 recebem a visita de um jornalista
Reportagem do Correio Paulistano registrando o momento feliz
da alta de José Musico, um dos sobreviventes 
E o triste caso do Sr. Carmino Pricoli,
que perdera dois filhos de uma vez na trágica Vesperal

O Cine Theatro Oberdan ficou fechado somente 03 dias depois do incidente, pois conforme observamos nesse anúncio abaixo, extraído do jornal Folha da Manhã do dia 12 de abril, então uma terça feira, ele anunciava sua reabertura para próxima quinta dia 14 exibindo o filme “Vida, Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo”, possivelmente em função das comemorações de Páscoa.


Jornal Folha da Manhã de 12 de abril de 1938

Mesmo estando novamente em funcionamento, nunca mais o cinema foi o mesmo, e sua popularidade diminuía consideravelmente com o passar dos anos. A pompa e o glamour de outrora não mais existia, restavam somente as tristes lembranças daquela fatídica tarde. Em meio altos e baixos as portas do Cine Theatro Oberdan fecharam-se definitivamente em meados dos anos 60 e o prédio caiu em um profundo e silencioso esquecimento. Nos anos setenta, mediante a ótima localização comercial, a edificação é vendida para a empresa de roupas de cama, mesa e banho “Lojas Zelo”, que decidiu preservar (pelo menos externamente) a estrutura original da construção. Hoje, o antigo Cine Theatro Oberdan, que no passado ostentou tantas diversões e infelizmente uma grande tragédia, permanece lá passando despercebido entre a multidão que sem saber de seu passado o considera apenas mais um imóvel antigo de São Paulo.


O Prédio do antigo Cine Theatro Oberdan nos dias atuais


Agradeço imensamente a minha fonte; Douglas Nascimento e sua perfeita matéria publicada em seu perfeito site: São Paulo Antiga, (www.saopauloantiga.com.br) Não deixem de visitar.
Para maiores informações sobre esse incidente visite também o arquivo digitalizado dos Jornais Folha da Manhã e Folha da Noite filtrando a pesquisa pela data do ocorrido, para facilitar siga o seguinte link que já te levara a principal matéria: http://acervo.folha.com.br/fdm/1938/04/12/145

quinta-feira, 5 de abril de 2012

"O Mundo da Fantasia" (1954)

(There´s No Business Like Show Business) De Walter Lang, Com Ethel Merman, Donald O´Connor, Marilyn Monroe, Dan Dailey, Johnnie Ray e Mitzi Gaynor, EUA - Musical - Cor - Fox - 1954.  

Extravagante musical da Fox dirigido por Walter Lang (1896-1972) que traz grandioso elenco, incluindo cantores de sucesso e ótimas canções de Irving Berlin (1888-1989). Colossal, o filme conta a história da família Donahue a partir de sua ascensão no teatro de Vaudeville, suas glórias diante das cortinas e seus conflitos por de trás delas. Foi um dos primeiros musicais filmados em Cinemascope e fotografado magistralmente em Color DeLuxe. Os excelentes números musicais, coreografados sob os cuidados de Robert Alton (1906-1957), se transformaram em uma verdadeira ode as cores, principalmente o último deles e que leva o título original do filme; "There´s No Business Like Show Business". Merman, Gaynor e O´Connor estão sensacionais e Marilyn Monroe, que já ocupava o lugar de estrela máxima da Fox, segundo consta, não queria participar do filme, uma vez que seu personagem é praticamente um coadjuvante no centro da trama. A atriz, no entanto, teria mudado de ideia quando lhe foi prometido o papel "da garota" na versão cinematográfica da peça de Billy Wilder (1906-2002) O Pecado Mora ao Lado (1955). Empolgante e espetacular, o filme, apesar de ter custado aos cofres da Fox mais de U$ 5 milhões de dólares e apresentar cantores consagrados e no ápice como Ethel Merman (1908-1984) e Johnnie Ray (1927-1990), foi um fracasso nas bilheterias, se comparado a outros musicais lançados nos áureos anos 50. Visto hoje, é certo afirmar que O Mundo da Fantasia continua agradando, tanto aos fãs de Marilyn Monroe, quanto aos fãs dos bons e extravagantes musicais de outrora.

✩✩✩

Os 5 Donahues no inicio da carreira
E o triunfo dos bons tempos
Enquanto Katy Donahue é a única realizada com sua profissão 
Os Donahue surpreendem-se quando Steve decide se tornar padre
e Tim se perde diante do amor não correspondido de Vicky
Vicky que em outrora era empregada do clube...
Se torna a estrela
There´s no Business Like Show Business
Marilyn Monroe canta Lazy
A beleza estonteante de Mitzi Gaynor 
Cartaz original do filme

domingo, 1 de abril de 2012

"Horas de Desespero" (1955)

(The Desperate Hours) De William Wyler, Com Humphrey Bogart, Fredric March, Arthur Kennedy, Martha Scott, Gig Young, Dewey Martin, Richard Eyer, EUA – Drama – P&B – Paramount – 1955.

O Diretor William Wyler aclamado desde os anos 30 sempre ousou dirigir qualquer gênero de filme, de romances a suspenses, de dramas a comédias e de faroestes a policiais. Vários de seus filmes hoje ocupam consideráveis posições entre os melhores da história do cinema. Em poucas linhas é fácil listar grandiosos clássicos dirigidos por esse alemão que encontrou em Hollywood seu destino: De Sua vasta obra destacam-se: Beco Sem Saída (1937), Jezebel (1938), O Morro dos Ventos Uivantes (1939), Rosa de Esperança (1942), Os Melhores Anos de Nossas Vidas (1946), Tarde Demais (1949), A Princesa e o Plebeu (1953), Da Terra Nascem os Homens (1958) e sem dúvidas o maior de todos, Ben-Hur (1959). Wyler foi indicado doze vezes ao prêmio Oscar, levando três deles por Rosa de Esperança, Os Melhores Anos de Nossas Vidas e Ben-HurNa década de 50 alcançou grande sucesso e ótimas críticas dirigindo dois excelentes filmes policiais, em 1951 mostrou o dia a dia e os problemas internos de uma delegacia de policia em Nova York com Chaga de Fogo (The Detective Story)Em 1955 decide colocar lado a lado dois monstros do cinema, os vencedores do Oscar, Humphrey Bogart e Fredric March no ótimo; Horas de Desespero (The Desperate Hours)Baseado na peça de Joseph Hays (aqui responsável pelo roteiro) o filme mostra o drama e a tensão de uma família quando se tornam reféns de três perigosos bandidos foragidos da prisão. A trama apesar de possuir um argumento simples, é envolvente e tem o poder de prender a atenção do espectador do inicio ao fim. Assim como noutro clássico sobre Gangsteres A Floresta Petrificada (1937), Horas de Desespero também apresenta uma ação claustrofóbica tendo grande parte de suas sequências rodadas em um único cenário. Inclusive essa não seria a única semelhança entre os dois filmes já que tanto um quanto o outro possuem também três bandidos e que tomam inocentes como reféns. Sem dúvidas hoje se trata de um filme menos lembrado, porém não menos grandioso que os demais realizados pelo mestre WW.

✩✩✩✩

A família recebe "visitas"
Que dita as regras a partir de então
A tensão sequer deve transparecer em suas vozes
 Toda a paz e tranquilidade do lar, transforma-se em medo , aflição e
Horas...
de Desespero
Foto publicitária do filme 
Humphrey Bogart  como o bandido Griffin interpreta o último vilão de sua carreira  
 Sr. William Wyler, sem dúvidas um dos grandes mestres do cinema
Cartaz original do filme
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