(The Adventures of Robin Hood) De: Michael Curtiz e William Keighley,
Com: Errol Flynn, Olivia DeHavilland, Basil Rathbone, Claude Rains, Alan Hale,
Eugene Paullette, Patrick Knowles, Ian Hunter, EUA – Aventura – Cor – Warner
Bros. – 1938.
Desde o lançamento do primeiro longa
metragem sonoro de Hollywood - “O Cantor de Jazz” (1927) - e diante de seu imenso
sucesso, a Warner Brothers,
responsável pela produção do filme, passou a realizar uma sucessão de musicais
extravagantes e altamente rentáveis. Todavia, após alguns anos, o novo gênero acabou
por cansar o público, e a grande novidade que até então havia revolucionado a indústria
fílmica, isto é, o som, também deixou de ser um chamariz ao se tornar algo
corriqueiro. Diante disso, uma série de fracassos por pouco não leva à falência
o estúdio de Burbank, que imediatamente encontra a solução para a escassez das
bilheterias através de um novo, e polêmico, gênero cinematográfico. Durante os cinco primeiros anos da década de 1930, ou
seja, no período que sucedeu a grande depressão americana, a Warner Bros, em
meio à crise, alcançou notoriedade em Hollywood ao se tornar o primeiro estúdio
americano a abordar, através de produções de baixo orçamento, problemas
contemporâneos e sociais, como o proibicionismo e em consequência dele, o surgimento e
o domínio dos gangsteres. Alma no Lodo (1930)
foi o primeiro filme do cinema a retratar a gênese, o ápice e o declínio de
gangsteres americanos e estrangeiros. Tão logo, o gênero “caiu” no gosto do
público, da mesma forma como poucos anos depois também “caiu” nas garras da
censura, fazendo com que novamente o estúdio se reinventasse. Para isso, um
gênero que a muito estava esquecido foi trazido de volta; as superproduções swashbuckler,
isto é, as superproduções capa-e-espada.
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James Cagney, pra que? |
Como já foi dito anteriormente na
resenha de “Capitão Blood” [LEIA AQUI], Lionel Barrymore e Robert
Donat estrelaram os dois
sucessos que trouxeram de volta o gênero swashbuckler, sendo
respectivamente “A Ilha do
Tesouro” (1934) e "O
Conde de Monte Cristo" (1934). No inicio de 1935, como a Warner Bros
já possuía os direitos sobre a opereta de 1891 chamada Robin Hood de DeKoven
e Smith, o então conselheiro de histórias e figurinos do estúdio, Dwight
Franklin, sugere a Jack Warner a produção de um novo filme sobre o
herói inglês. Warner por sua vez, interessado no projeto, autoriza a realização
do longa, cujo protagonista já havia sido escolhido com unanimidade; James Cagney.
Todavia, durante a pré-produção do filme, Cagney se desentende com os
produtores Hal Wallis e Jack Warner e acaba se desligando do estúdio; diante
disso, e na ausência de outro astro para interpretar Robin, a Warner decide
engavetar a trama. Naquele mesmo ano,
entretanto, o que nem Jack Warner e qualquer outro executivo do estúdio
imaginava, é que um nome completamente desconhecido iria se tornar do dia para
a noite o mais novo astro de Hollywood. Errol Flynn, que acabara de
estrelar na própria Warner, Capitão Blood, sob a direção de Michael
Curtiz, surge como o arquétipo ideal das aventuras swashbuckler. Diante do sucesso do ator e de um contrato renovado, finalmente “As Aventuras de Robin Hood” em breve deixaria de ser apenas um projeto para definitivamente se tornar realidade.
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Robin Hood e Will Scarlett perambulam pela floresta de Sherwood |
Com relação à lenda Robin Hood, a primeira
menção de seu nome ocorreu ainda na idade média no poema “Pierce Plowman”,
escrito por William Langland em 1377. Desde então, a fama do
príncipe dos ladrões só foi crescendo, alcançando dimensões épicas ao longo dos
séculos através da literatura, do teatro e do cinema. Os primeiros filmes a contarem
a história do herói inglês foram rodados, acreditem, em 1908 e 1912. Em 1913, foi
a vez do primeiro longa metragem (com 4 rolos) e em 1922 a primeira
superprodução; “Robin Hood de Douglas Fairbanks”. Por muitos anos, a
versão de Fairbanks sem dúvidas foi a melhor e a mais notória, entretanto, sua glória
durou até 1938, ano em que a Warner Brothers lança As Aventuras de Robin
Hood, o mais aclamado capa-e-espada de todos os tempos. A trama se inicia com o seguinte prólogo: “No ano da graça de 1191, quando Ricardo Coração de
Leão partiu para expulsar os infiéis da Terra Santa ele entregou a regência de
seu reino a seu amigo Longchamps e não a seu traiçoeiro irmão, o Príncipe João.
Amargamente ressentido, João desejava que um desastre recaísse sobre o Rei para
que ele com a ajuda dos barões normandos pudesse apoderar-se do trono, e então,
em um dia de azar para os saxões...” o
príncipe João (Rains) toma o poder e passa a aumentar os impostos para
falsamente levantar o alto resgate de Ricardo (Hunter), que se encontrava
cativo na Áustria. Diante da árdua situação dos saxões, surge Robin de Locksley
(Flynn) juntamente com Will Scarlett (Knowles), João Pequeno (Hale) e Frei Tuck
(Paullette) dispostos a enfrentar a tirania e a mão pesada do príncipe regente
e de seu braço direito, Sir Guy de Gisbourne (Rathbone).
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Robin enfrenta a corte |
Essa versão, cujo roteiro foi assinado pelos
renomados Norman Reilly Raine e Seton L. Miller, que acabavam de
sair respectivamente dos sucessos “A Vida de Emile Zola” (1937) e “Balas ou
Votos” (1936) foi a mais fidedigna às verdadeiras baladas medievais e aos
demais poemas escritos ao longo dos séculos. Todos os detalhes existentes nos
épicos, ou seja, a luta de bastões entre Robin e João Pequeno, o torneio de
arco e flecha e o episódio onde frei Tuck carrega Robin nas costas, estão
presentes na trama dirigida magistralmente por Keighley e Curtiz. Olivia De Havilland, que já havia trabalhado ao
lado de Flynn em “Capitão Blood” (1935) e “A Carga da Brigada Ligeira” (1936),
aqui interpreta Lady Marian, a protegida do príncipe João, prometida de Sir Guy
de Gisbourne e o grande amor de Robin Hood. A química entre Flynn e DeHavilland
deu tão certo, que nos anos seguintes estrelaram juntos mais cinco sucessos,
destacando-se entre eles “Uma Cidade Que Surge” (1939) [LEIA AQUI] e “O
Intrépido General Custer” (1941). Ao
final da produção, As Aventuras de Robin Hood custou à Warner, cerca de US $ 2
milhões, um valor altíssimo para os padrões da época; no entanto, ao ser
lançado, no dia 14 de Maio de 1938, só nos Estados Unidos o filme arrecadou
mais de US $ 4 milhões, se tornado a segunda maior bilheteria do ano. As deslumbrantes
cores do Technicolor, a exímia direção de arte de Carl Jules Weyl e a
fantástica trilha sonora do mestre Erich Wolfgang Korngold (premiadas com o
Oscar) fazem do filme, que é sem dúvidas uma das maiores aventuras de todos os
tempos, um espetáculo ainda mais colossal. Completamente atemporal, a versão de
1938 se sobressaí a todas as demais películas já produzidas sobre o príncipe
dos ladrões. Que nos perdoe Douglas
Fairbanks, Kevin Costner ou Russell Crowe, mas se Robin Hood realmente existiu,
duvido muito de que alguém se parecesse tanto com ele, quanto Errol Flynn.
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Despertando a ira de Príncipe João e Guy de Gisbourne |
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Lady Marian é cortejada por Robin |
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O inesperado banquete |
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O torneio de arco e flecha |
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E o participante Robin, disfarçado para não chamar a atenção |
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Robin recebendo o prêmio de Marian antes de ser capturado |
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Após fugir, Robin invade o castelo... |
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Enfrenta seu maior inimigo... |
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Em um duelo de tirar o folego... |
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Até vencê-lo... |
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E libertar seu grande amor |
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Errol Flynn como Robin Hood |
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Cartaz original do filme |