(Dial M For Murder) De: Alfred Hitchcock, Com: Ray Milland, Grace
Kelly, Robert Cummings, Anthony Dawson, John Williams, EUA – Suspense – Cor – Warner
– 1954.
A Década de 50 pode ser considerada a
década da revolução técnica da indústria cinematográfica. Isso de fato pode ser
afirmado se levarmos em consideração as inúmeras transformações que ocorreram
nas telas nos anos pós-televisão. Com o advento da telinha, o público, que agora
tinha em sua própria casa, e gratuitamente, diversos shows, seriados e até
mesmo filmes, passou a frequentar cada vez menos as imensas e luxuosas salas de
cinemas. De certa forma poderíamos dizer que é nesse momento que a indústria cinematográfica
apresentou seus primeiros sinais de declínio, uma vez que toda a ostentação e
magnitude de outrora estava sendo ofuscada por um novo eletroeletrônico. Diante
das mesmices e das baixas bilheterias, os principais estúdios de Hollywood
procuraram desenvolver novas técnicas para chamar a atenção do público cada vez
mais distante. Em 1953, a 20º Century Fox toma a frente e lança o CinemaScope, uma nova lente que
transformava a antiga tela quadrada em uma nova e espetacular tela retangular. Pouco
mais tarde, outros estúdios também desenvolveriam seus próprios sistemas de
lentes especiais, como o Cinerama, VistaVision e Todd A-O. Com isso, o cinema se tornava cada vez maior, e não
somente no tamanho das telas de projeções, uma vez que, os filmes também
passaram a ser produzidos de forma extravagante. Como exemplo podemos afirmar
que, nunca se lançou tantos épicos como nos anos 50. Filmes religiosos como Quo Vadis (1951), David e Betsabá (1951), O
Manto Sagrado (1953), Demétrius e os
Gladiadores (1954), Os Dez
Mandamentos (1956) e Ben-Hur
(1959) se tornaram comuns e permaneceram no ápice até meados dos anos 60,
quando o gênero finalmente apresentou desgaste.
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Tony e Margot Wendice, casal quase perfeito |
Além dos épicos religiosos e
dos demais filmes “grandes”, outra significativa mudança no cenário fílmico dos
anos 50 foi o aumento das produções usando o processo Technicolor. Levando em consideração que as atrações televisivas eram
apresentadas somente em preto e branco, o cinema para se diferenciar, cada vez
mais passou a lançar filmes coloridos, abusando explicitamente das vibrantes
cores de processos já consagrados, como o já citado Technicolor, e dos recém-criados
WarnerColor e Color deLuxe. Outra forma de
atrair o público para as salas de cinema foi à criação do processo de terceira
dimensão, o então conhecido 3D. Diversos filmes, principalmente de horror e que
hoje se encontram esquecidos, eram lançados com esses efeitos. Praticamente
todos os estúdios em Hollywood usaram e abusaram dos recursos de terceira
dimensão. Com isso, o público, que não tinha acesso a esses recursos na TV, por
sua vez voltava a frequentar as salas de exibições, fazendo com que os
estúdios, pelo menos por hora, voltassem a respirar aliviados diante dos
constantes sucessos.
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Margot com o amante Mark Halliday |
Alfred Hitchcock (1899-1980) apesar de possuir seu próprio
estilo de trabalho, como estava sob contrato com a Warner Bros no inicio dos
anos 50, deveria obedecer algumas ordens do estúdio de Burbank. Ainda
descansando de seu último trabalho, o romântico e perfeito A Tortura do Silêncio (1953), Hitchcock é informado que, diante das
diversas mudanças que se encontrava o cenário cinematográfico naquela altura,
seu novo filme também deveria ser realizado em 3D e em cores. Até então, vale ressaltar, somente dois filmes do mestre do suspense haviam sido filmados
coloridos; o ótimo Festim Diabólico
(1948) e o fracasso Sob o Signo de
Capricórnio (1949). Baseado na peça
homônima de grande sucesso do dramaturgo inglês Frederick Knott (1916-2002), o novo trabalho de Hitchcock seria Disque M Para Matar, uma trama magnífica
e envolvente que é hoje sem dúvidas, apontado como uma de suas principais
obras-primas. Tony Wendice (Milland em
uma performance superior a que lhe rendeu o Oscar em 1945) é um ex-tenista
profissional que vive em Londres ao lado da rica e infiel esposa Margot Mary
Wendice (Kelly em seu primeiro filme com Hitchcock). Após descobrir o caso
extraconjugal de Margot com o escritor americano Mark Halliday (Cummings), Tony
para se vingar e ao mesmo tempo garantir-se da herança da esposa, chantageia o antigo
colega de Universidade, Charles Swann (Dawson), cuja reputação é dúbia, para que
esse, com rigor de detalhes assassine Margot em troca de £ 1.000,00. No entanto, quando o
planejado não sai como o esperado, Tony põe em
prática um plano B que é completamente desestruturado quando passa a ser
investigado pelo inspetor Hubbard (Williams em uma interpretação digna de nota).
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O Triangulo amoroso |
A riqueza de detalhes, a posição das câmeras estáticas diante dos personagens
que caminham até elas, e os objetos em primeiro plano, nos dão a impressão que
estamos diante de um palco, assistindo a uma encenação teatral. Os efeitos em
3D (que hoje estão disponíveis e podem ser vistos graças ao relançamento do
filme em Blu-Ray) comprovam a excelência
do diretor, que soube usar os recursos magistralmente nos momentos certos. A
trilha sonora do exímio maestro Dimitri Tiomkim é um dos pontos altos do filme,
assim como o ótimo roteiro, assinado pelo dono da peça Frederick Knott, e a ação,
completamente psicológica e confinada. Dos filmes dirigidos por Hitchcock, Disque
M Para Matar é sem sombra de dúvidas, um dos preferidos desse que vos escreve,
ficando atrás somente de Um Corpo Que Cai
e a Tortura do Silêncio. Refinado, inteligente
e intrigante, a obra-prima do mestre do suspense em nada envelheceu e hoje, mesmo
passados quase sessenta anos de seu lançamento, continua a encantar os amantes
do bom cinema. O único erro de Alfred Hitchcock quanto a Disque M Para Matar
foi o fato de ele ter declarado algum tempo depois da estreia do filme, que
aquele teria sido seu pior trabalho, e que o mesmo poderia ter sido dirigido
pelo telefone. De fato não tem como concordamos com tal afirmação, uma vez que
o filme se mostra excelente em todos os aspectos. Na verdade, nunca saberemos ao
certo se o mestre do suspense realmente pensava daquela forma sobre seu filme
ou se mais uma vez estava ele somente sendo irônico, pregando uma de suas peças
aos jornalistas, com seu negro, porém refinado humor inglês.
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Margot alerta Mark sobre o sumiço de uma de suas cartas confidenciais |
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Tony entra em contato com Swann |
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Que mais tarde visita-o |
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"Eu vi você" |
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Um relógio parado |
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Disque M Para Matar |
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Swann cumprindo o combinado |
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Que não sai como o planejado |
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O Inspetor Hubbard passa a investigar o crime "quase perfeito" |
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Grace Kelly estreia seu primeiro filme sobre a direção de Hitchcock |
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O Mestre |
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Cartaz original do filme |
Realmente um filmaço como todos os filmes do Hitchcock. Valeu peas informações. Obrigado.
ResponderExcluirÉ aquilo: Grace Kelly linda, Hitchcock e um filme melhor que o outro, Milland inspirado...não entra no meu top 5, mas talvez num top 10 do gênio.
ResponderExcluirÉ interessante observar que o cinema já passou por vários testes de sobrevivência. Se houve esses testes no passado, atualmente a sétima arte escapou da extinção, devido à internet, filmes piratas e dente outros. O cinema se agigantou de novo (Imax) e voltou a ser tridimensional, ao ponto, que agora os cinemas estão arrecadando muito mais do que antes, sendo que as locações em Blu-ray decaíram.
ResponderExcluirO que hoje está indefinido mesmo, é o destino do filme fora das telonas, pois em Blu-ray os estúdios não estão mais lucrando como antes devido as pessoas ficarem baixando filme e não me vem dizer que locação online será a salvação, pois a pessoa sempre irá optar em baixar as obras de graça. Ou seja, ainda é um ponto de interrogação sobre isso.
Adoro a parceria de Hitchcock com Grace Kelly. Apesar de meu filme favorito da dupla ser Janela Indiscreta, este também é muito bom, com o sempre ótimo Ray Milland para abrilhantar ainda mais o elenco.
ResponderExcluirAbraços!
Excelente texto Jefferson! Gostei da introdução e da contextualização que você fez. De fato os anos 50 foram um período de antítese para o cinema, um período de reinvenção, tudo isso forçado pela redução nos custos de produção, algo que se reflete bem nos filmes de período, que ganhavam em qualidade técnica e perdia em suntuosidade, se comparados com os da década anterior.
ResponderExcluirSei que é um enorme pecado, mas ainda não assisti "Disque M para Matar", o que pretendo fazer em breve...
Forte abraço meu caro!
Olá Jeff! maravilhosa matéria sobre este que considero um dos pontos mais fascinantes da filmografia de Alfred Hitchcock, ainda mais valorizada pela presença de Grace Kelly. Um clássico que sem dúvida não envelhece.
ResponderExcluiro FILMES ANTIGOS CLUB completá no próximo sábado, dia 8, 3 anos no ar. Será apresentada uma matéria especial de aniversário com menção honrosa para todos os amigos, colaboradores, e colegas de Blog Roll, entre os quais vc faz parte.
Abraços e êxito em seus projetos.
Paulo Telles.
Olá, Jefferson
ResponderExcluirMatéria de alta qualidade. Mas permita discordar na preferência dos melhores filmes de Hitchcock. Para mim "Psicose" e "Janela Indiscreta", bem à frente dos demais. Completo o trio com "O Homem que Sabia Demais" porque tem Doris Day, a melhor das louras que Hitch colocou em seus filmes.
Abraço do Darci Fonseca