(All About Eve)
De: Joseph L. Mankiewicz, Com: Bette Davis, Anne Baxter, George Sanders,
Celeste Holm, Gary Merrill, Hugh Marlowe, Thelma Ritter, Gregory Ratoff,
Marilyn Monroe, EUA – Drama – P&B – Fox – 1950.
Em 1949, ao vencer seu primeiro prêmio Oscar de melhor diretor e melhor roteirista pelo filme Quem é o Infiel, o diretor Joseph L. Mankiewicz (1909-1993) encontrava-se sob contrato com a 20th Century Fox desde 1946, ano que estreou na direção com os suspenses Backfire, O Solar de Dragonwick e Uma Aventura na Noite. Antes disso, o diretor, que começou a carreira como produtor e roteirista em 1929, já havia trabalhado em mais de 55 produções na Paramount. Com uma carreira marcada por grandes sucessos, como O Fantasma Apaixonado (1947), [LEIA AQUI], Júlio César (1953), A Condessa Descalça (1954) e o já citado e premiado Quem é o Infiel (1949), Mankiewicz, que também amargou alguns fracassos como o malfadado, cansativo e literalmente faraônico Cleópatra (1963) e o desinteressante De Repente no Último Verão (1959), pode-se dizer, tornou-se um dos maiores cineastas estadunidenses de todos os tempos. Seu ápice sem dúvidas foi no final da década de 40 e inicio dos anos 50, quando consecutivamente levou para casa, em dose dupla, o maior premio da indústria cinematográfica, isto é, o Oscar de melhor diretor e melhor roteirista. No final de 1949, enquanto ainda desfrutava do sucesso de Quem é o Infiel, Mankiewicz diante do triunfo, recebeu do todo poderoso Darryl F. Zanuck (1902-1979), a missão de dirigir dois novos longas metragens no ano vindouro. Um deles já estava em pré-produção; O Ódio é Cego (1950), o segundo, que ainda era apenas uma ideia a ser aprimorada, tornou-se realidade após o diretor pegar em mãos uma velha edição de maio de 1946 da revista Cosmopolitan.
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Eve Harrigton recebendo o prêmio Sarah Siddons |
Em meio ao seu conteúdo, a referida Cosmopolitan trazia aos seus leitores The Wisdom of Eve, um conto de nove páginas assinado por Mary Orr (1910-2006). Orr, que ao longo de sua vida viveu à sombra desse feito, publicara a história com base na amarga e verídica experiência da amiga Elisabeth Bergner (1897-1986), uma famosa atriz ucraniana que, no inicio dos anos 40 quase teve um importante papel numa peça, usurpado pela própria assistente, uma “pobre fã” que ela mesma compadecida empregou anos antes. The Wisdom of Eve veio de encontro com a ideia original de Mankiewicz, que a principio considerava trabalhar com a história de uma atriz de meia idade inconformada com o declínio de sua carreira. Notem que a ideia original do diretor, em muito se assemelha com o roteiro assinado por Billy Wilder (1906-2002) e Charles Brackett (1892-1969) para o filme Crepúsculo dos Deuses, [LEIA AQUI] lançado no mesmo ano. A pedido de Mankiewicz, a Fox pagou à Orr o irrisório valor de US$ 5000 pelo conto, que logo foi trabalhado e adequado para as telas. Concluídas as adaptações, estava definido, Best Performance seria o segundo filme dirigido por Mankiewicz em 1950 e Susan Hayward (1917-1975) novamente seria a protagonista, assim como foi em Sangue do Meu Sangue no ano anterior. Darryl F. Zanuck, por sua vez, satisfatoriamente aprovou o roteiro, entretanto, apontou algumas significativas mudanças na produção, entre elas o título do filme, que passou a ser All About Eve.
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"Muito bem querida agora você já tem o que colocar no lugar do coração" |
Entre as demais mudanças apontadas por Zanuck, estava a substituição da musa de Mankiewicz. Segundo o produtor e presidente da Fox, Hayward era muito jovem para interpretar Margo Channing, ou seja, uma atriz “madura”. De fato, ele estava certo, uma vez que Eve, a vilã, a principio seria interpretada por Jeanne Crain (1925-2003), apenas oito anos mais nova. Para substituir Hayward cogitaram nomes que iam de Marlene Dietrich (1901-1992), Barbara Stanwyck (1907-1990) e Ingrid Bergman (1915-1982) às divas teatrais Tallulah Bankhead (1902-1968) e Gertrude Lawrence (1898-1952), entretanto, por fim a escolhida foi Claudette Colbert (1903-1996), que disponível, prontamente aceitou o convite. Todavia, faltando poucos dias para o inicio das filmagens, em abril de 1950, e com todo o elenco já definido, Jeanne Crain ao descobrir que estava grávida pede seu desligamento da produção, da mesma forma que Claudette Colbert após ferir gravemente as costas em um acidente. Diante dos imprevistos, Zanuck imediatamente escala, para viver Eve, a contratada do estúdio Anne Baxter (1923-1985). Baxter, após seis anos interpretando pequenos papéis, finalmente alcançou o estrelato em 1946 ao vencer o Oscar de melhor atriz coadjuvante por seu excelente desempenho em O Fio da Navalha. Como a ardilosa Eve Harrington, a atriz pode comprovar ainda mais seu talento através de uma interpretação que, sem dúvidas, se tornou o seu ápice. Para substituir Colbert e interpretar Margo, Zanuck convidou a premiada e renomada Bette Davis (1908-1989). Essa, após dezoito anos sob contrato com a Warner Bros, ao ler o roteiro de Mankiewicz se apaixonou pelo personagem e sem hesitar, disse sim.
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Margo e Birdie, farpas e fidelidade |
O Filme se inicia durante a cerimônia de entrega do prêmio teatral Sarah Siddons, cuja principal vencedora é Eve Harrington (Baxter). Entre os convidados encontram-se a estrela dos palcos Margo Channing (Davis) com seu noivo Bill Sampson (Merrill), o roteirista Lloyd Richards (Marlowe) com a esposa Karen Richards (Holm) e o cínico crítico Addison DeWitt (Sanders), que através de um minucioso flashback nos conta tudo sobre Eve; suas mentiras, suas intrigas e todas as artimanhas que lhe garantiram o sucesso. A partir desse fantástico flashback, a trama de A Malvada se resume em contar a maquiavélica história de Eve a partir do momento em que ela deixa de ser uma completa desconhecida, por intermédio de Karen que a leva até Margo, sua musa inspiradora e de quem ela finge ser fã unicamente com o intuito de usurpar seu lugar no trabalho e na vida pessoal.
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Karen Richards apresenta Eve a sua musa inspiradora |
Lançado nos Estados Unidos no dia 13 de outubro de 1950, A Malvada foi um enorme sucesso de bilheteria e de crítica. Alavancou novamente a carreira de Bette Davis, que vinha de uma sucessão de filmes fracos na Warner e consolidou ainda mais o nome de Anne Baxter. Até 1997, quando James Cameron lançou seu aclamado Titanic, o filme de Mankiewicz permaneceu isolado no número de indicações ao Oscar, 14 no total. Desses, A Malvada levou 06 estatuetas, incluindo o de melhor filme, diretor e roteiro. Bette Davis, apesar de ter apresentado um dos melhores desempenhos de sua carreira, não levou o prêmio de melhor atriz. Um empate, assim como ocorreu em 1968 entre Barbara Streisand e Katharine Hepburn (1907-2003) era o que deveria ter ocorrido em 1950, uma vez que Gloria Swanson (1899-1983) também atuou magistralmente em Crepúsculo dos Deuses. Entretanto, ambas inacreditavelmente perderam para a novata Judy Holliday (1921-1965) que temos que convir, também apresentou um comovente trabalho no fraco Nascida Ontem. Além das indiscutíveis atuações de Davis e Baxter, também merecem destaques os desempenhos de Thelma Ritter (1902-1969) e Celeste Holm (1917-2012), indicadas ao Oscar como coadjuvantes, e George Sanders (1906-1972), vencedor como ator coadjuvante. Marilyn Monroe (1926-1962), que quase passa despercebida, faz uma pequena ponta como a srta Caswell. Além do exímio e premiado roteiro, repleto de farpas e acidez, também merece destaque em A Malvada a excelente trilha sonora do experiente Alfred Newman (1901-1970) e o figurino (vencedor do Oscar) assinado por Edith Head (1898-1981) que a propósito levou dois Oscar para casa em 1951, um por esse trabalho, de melhor figurino em preto e branco, e outro por Sansão e Dalila de melhor figurino colorido. Aclamado como um dos maiores clássicos de Hollywood, A Malvada é sem dúvidas um dos melhores filmes produzidos na década de 1950. Cult, para ver e rever e obrigatório em qualquer coleção.
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Bill e Margo, relacionamento conflituoso |
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O Inicio da noite turbulenta |
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Com direito a recepções ríspidas |
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e muitos dry martines |
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Diante do atraso de Margo, surge uma substituta |
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"Não vou me vender por um coquetel e um amendoim salgado" |
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O plano de Karen |
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O Noivado de Margo |
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O Elenco principal em foto publicitária |
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Bette Davis e George Merrill, amor dentro e fora das telas |
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Sanders e Baxter em foto publicitária |
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Bette Davis, inesquecível como Margo Channing |
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Cartaz original do filme |
nao se fazem mais filmes como este, infelizmente!
ResponderExcluirAdoro estes textos onde em cada linha transparece um amor pelo que nos é apresentado. E o filme merece cada sílaba.
ResponderExcluirGrande Clássico! Ótima Resenha
ResponderExcluirÉ um clássico que ainda não assisti.
ResponderExcluirAbraço
Bravo! Anne Baxter é radiante e merece ser sempre lembrada! Bette Davis é unanimidade, mas confesso que eu gostaria de saber como seria o filme com Claudette Colbert e Jeanne Crain.
ResponderExcluirAbraços!
Revi esses dias em alta definição. Grandes interpretações. Roteiro magnífico e direção imprecável. Uma joia rara de hollywood.
ResponderExcluirAbraço.
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