(Little Caesar) De: Mervyn LeRoy, Com: Edward G. Robinson, Douglas
Fairbanks Jr, Glenda Farrell, William Collier Jr, Stanley Fields. EUA – Policial – P&B - Warner Bros – 1930.
Segundo o professor de cinema Robert Sklar, havia no cinema mudo uma tradição de se fazer filmes sobre a cidade grande e os crimes das cidades grandes. O lendário diretor D.W.Griffith, por exemplo, levou às telas em 1912 o curta The Musketeers of Pig Alley, que podemos dizer, foi o primeiro filme de gangster da história do cinema. Em seguida, vieram os longas, Regeneration (1915) de Raoul Walsh, The Penalty (1920) de Wallace Worsley, Sacrifício Inútil (1927) de Frank Urson e Paixão e Sangue (1927) de Josef Von Sternberg. Depois disso, com o advento do som, os filmes em Hollywood foram se tornando produções cada vez maiores, o gênero policial não fugiu à regra, como podemos comprovar através da trilogia realizada no inicio dos anos 30 e que se tornou a precursora de todos os filmes de gângsteres existentes; Alma no Lodo (1930) de Mervyn LeRoy, Inimigo Público nº 1 (1931) de William A. Wellman e Scarface, a Vergonha de Uma Nação (1932) de Howard Hawks.
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Eu quero estar aqui! |
Esses três filmes, que revolucionaram o gênero, tinham em comum a critica ferrenha ao proibicionismo dos anos 20. Como se sabe, poucos anos após o termino da Primeira Grande Guerra Mundial, mais precisamente em 1920, uma emenda constitucional, o Ato Volstead ou Ato de Proibição Nacional, entrava em vigor nos Estados Unidos alegando que qualquer bebida com mais de 0,5% de teor alcoólico teria sua fabricação, venda, distribuição e consumo terminantemente proibidas. Apesar do rigor, a lei não conseguia conter o desejo dos americanos, que recorriam à clandestinidade em busca do álcool. Com isso, um novo tipo de crime passou a atender as necessidades da população através do “trabalho” de contrabandistas e de poderosos gângsteres, como o do notável ítalo-americano Al Capone. Capone, considerado o maior gângster dos Estados Unidos, por muitos anos foi o líder de uma organização criminosa dedicada ao contrabando e outras atividades ilegais durante a Lei Seca. Frio, violento e completamente sem escrúpulos, Capone controlava informantes, cassinos, destilarias e cervejarias, chegando a faturar mais de cem milhões de dólares por ano. Entre as autoridades da época, era conhecido como scarface, devido a uma cicatriz em seu rosto, portanto, qualquer semelhança com o título do filme de Hawks não é mera coincidência.
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Caesar Enrico Bandello entre os chefões Pete Montana e Sam Vettori |
Também não é mera coincidência com a vida de Al Capone a obra “Little Caesar” escrita em 1929 por W.R. Burnett, renomado novelista que mais tarde seria responsável pelos romances policiais “O Último Refúgio” (1941) [LEIA AQUI] e “O Segredo das Jóias” (1949). Burnett, que também se destacara como um excelente roteirista em Hollywood, assinando sucessos como o aclamado “Fugindo do Inferno” (1963), cresceu em Chicago e conheceu de perto as afliges causadas pelos gângsteres. Apesar de já ter escrito mais de cem contos e cinco romances, foi com Little Caesar que Burnett alcançou a notoriedade. Diante do sucesso, a Warner Bros, que era especialista em produzir dramas contemporâneos e sociais, adquiriu os direitos sobre o livro e imediatamente providenciou sua adaptação pra as telas. Francis Edward Faragoh, Robert N. Lee, Robert Lord e um não-creditado Darryl F. Zanuck foram os responsáveis por esse trabalho, que sem delongas, estava pronto para ser filmado. Produzido pelo competente Hall B. Wallis, cuja filmografia é repleta de obras-primas, (As Aventuras de Robin Hood, Vitória Amarga, O Falcão Maltês, A Canção da Vitória, Casablanca, etc), Alma no Lodo foi dirigido por Mervyn LeRoy, um exímio diretor que permaneceu sob contrato com a Warner até 1939, ano que se transferiu para a MGM. Com relação ao elenco, existem boatos que, a principio, Clark Gable interpretaria Rico, todavia, Jack Warner não aprovou a escolha e sugeriu Robinson, que havia acabado de filmar na própria Warner o filme policial The Widow From Chicago (1930). O já conhecido Fairbanks Jr ficou com o papel de Joe e a novata Glenda Farrell com o papel da dançarina Olga.
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Rico demonstra sua força |
A história de Alma no Lodo retrata a origem, o ápice e o declínio de Caesar Enrico Bandello (Robinson), um assassino frio e calculista que ao lado do amigo Joe Massara (Fairbanks Jr.) deixa os pequenos crimes do interior em busca da riqueza e do poder na cidade grande. Ambicioso e completamente prepotente, assim que chega à cidade, Enrico se une ao bando de Sam Vettori (Fields), um representante da máfia local que aparentemente vive como gerente da boate Palermo. Logo, “Rico”, como passa a ser chamado, assume o controle da gangue e rapidamente se torna um dos maiores mafiosos da cidade, enfrentando gangues rivais e a perseguição das autoridades. Em nenhum momento o filme menciona a cidade de Chicago e o proibicionismo de forma explicita, entretanto, é evidente que a trama, assim como na obra original, refere-se à vida de Al Capone.
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E logo se torna o líder da organização criminosa |
Ao ser lançado, apesar do sucesso entre o público, o filme dividiu opiniões e não foi muito bem recebido pela crítica. Muitos ficaram ultrajados porque um gângster estava sendo idealizado, e o público era encorajado a se identificar com ele. Como sabemos, em 1930 o código Hays ainda não havia sido criado, todavia, em 1954 quando o filme voltou as telas, para evitar problemas com a censura, a Warner providenciou o seguinte prólogo a fim de exterminar qualquer apologia aos mafiosos: "Talvez os mais fortes de todos os filmes de gângsteres “Inimigo Público nº 1 e “Alma no Lodo” tiveram um profundo efeito sobre a opinião pública. Eles mostraram violentamente os males relacionados ao Proibicionismo e sugeriram a necessidade de uma faxina nacional. Tom Powers de Inimigo Público nº 1 e Rico de Alma no Lodo não são homens, tampouco são meramente personagens: são um problema que cedo ou tarde, nós o público, teremos de resolver". Em contrapartida, é interessante ressaltar, que existem aqueles que vêem a obra de Burnett como uma alegoria aos negócios, em outras palavras, Alma no Lodo seria uma versão muito grotesca do empreendedor americano que, durante os anos 1920, achava que ia enriquecer cada vez mais a medida que a bolsa subia. É de fato uma visão bastante curiosa, no entanto, aceitável. Hoje, Alma no Lodo, Inimigo Público nº 1 e Scarface, A Vergonha de Uma Nação, são mais que grandes clássicos do cinema, juntos, esses filmes são os precursores de tudo que já foi filmado sobre gângsteres e sobre o proibicionismo americano. Se ao longo dos anos, o público pode conhecer filmes policiais como Bonnie e Clyde (1967), O Poderoso Chefão (1972), Era Uma Vez Na America (1984) e Os Intocáveis (1987) foi graças a inovação e ao trabalho de homens como Griffith, LeRoy, Wellman e Hawks, que nos primórdios do cinema criaram esse gênero que há mais de noventa anos continua em voga.
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Rico enfrentando as gangues rivais |
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O Banquete |
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Rico perseguindo Joe e Olga |
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Rico é perseguido |
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Eliminando os inimigos |
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Rico se torna alvo |
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Na Sarjeta |
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Douglas Fairbanks Jr. em foto publicitária |
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Edward G. Robinson como Little Caesar |
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Cartaz original do filme |
Grande escolha, Jefferson!
ResponderExcluirTweetei este seu artigo lá no nosso twitter do filmesclassicos.podbean.com.
Continue com o bom trabalho!
Assisti esses tempos é muito show esse filme.
ResponderExcluirBom vê-lo de volta, Jefferson!
ResponderExcluirEmbora eu goste mais de Inimigo Público Nº 1 e Scarface, não posso negar que Alma no Lodo também é um filme sensacional. São três maneiras de tratar o mesmo problema, mesmo que com um final semelhante, e você analisou muito bem este grande filme.
Abraços!
Olá, Jefferson. O Clássico, aqui, é uma marca do seu blogger. Acredite: sempre aprendo. Uma riqueza de detalhes há em seu texto. Tenho, ultimamente, lido outros tipos de artes e desenvolvido leituras mas específicas nestas áreas. Porém, confesso: gosto de sua escrita e das seleções de imagem que compõe suas leituras aqui. Este, anda, não vi. Mas, nada que impeça, nestes termos, de não vê-lo. No mais um abraço meu camarada. Até a próxima.
ResponderExcluirOi!
ResponderExcluirVim desejar um feliz 2015!
Até!