(Dead End) De: William Wyler, Com: Sylvia Sidney, Joel McCrea, Humphrey Bogart, Wendy Barrie, Claire Trevor, Allen Jenkins, Marjorie Main, Billy Halop, Huntz Hall, Bobby Jordan, Leo Gorcey, Gabriel Dell, Bernard Punsly, Ward Bond. EUA – Policial – P&B – Samuel Goldwyn – 1937.
Lá se vão mais de oitenta
anos desde que o dramaturgo Sidney Kingsley (1906-1995) recebeu o prêmio Pulitzer
por seu primeiro trabalho; a peça Men in
White (1934), dirigida por Lee Strasberg (1901-1982). Kingsley, apesar de atualmente
ser pouco lembrado, foi responsável por grandes sucessos no teatro
estadunidense; suas peças, que na maioria das vezes abordavam dramas policiais e
sociais, eram sinônimo de qualidade e apreciação. Além da premiada e já citada Men in White, destacam-se também entre os
êxitos de Kingsley; Dead End (1935) e
Detective Story (1949), dois sucessos
que transcenderam os palcos e se tornaram clássicos no cinema. Samuel Goldwyn
(1879-1974) foi o grande responsável pela adaptação de Dead End, que no Brasil recebeu
o título de Beco Sem Saída. Goldwyn, que até então se dedicara a produzir
melodramas e comédias, ainda não se aventurara no gênero gangsters, que dava tão bons resultados à Warner. Ao ver Dead End, Goldwyn compreendeu
que naquela peça havia material para fazer um filme que reunia dois elementos
lucrativos: o realismo social de uma rua de Nova York e a denúncia da pobreza e
da miséria como motor da delinquência juvenil.
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Beco Sem Saída: Realismo social e denúncia de pobreza |
A principio, Goldwyn queria que
o roteiro fosse escrito por Sidney Howard (1891-1939), no entanto, esse já
estava comprometido com a adaptação de E
o Vento Levou para David O´Selznick (1902-1965). Dessa forma, o roteiro
ficou sob a responsabilidade da ótima Lillian Hellman (1905-1984), que pouco antes
havia adaptado sua polemica peça The
Children´s Hour para as telas. Hellman
é muito lembrada também por ter escrito os ótimos; Pérfida (1941) e A Estrela do
Norte (1943), esse último alias, uma explicita propaganda antinazista em
pleno auge da segunda guerra mundial. Hellman recebeu de Goldwyn uma única
recomendação; tornar o texto do filme mais “leve” que o original. Como sabemos,
o código hays já estava reinando no
cinema americano, portanto, qualquer menção de doenças venéreas, prostitutas ou
amantes, presentes na peça, deveria ser completamente eliminada nas telas. A direção de Beco Sem Saída ficou a cargo de William
Wyler (1902-1981), que na altura estava sob contrato com Goldwyn e vinha dos
sucessos Fogo de Outono e Infâmia, ambos de 1936. A parceria entre
Goldwyn e Wyler, que durou quase dez anos, rendeu sete magníficos filmes, quase
sempre com a fotografia do exímio Gregg Toland (1904-1948) e os roteiros de Lillian
Hellman. Entre eles, além dos já citados Fogo
de Outono e Infâmia destacam-se
os clássicos: O Morro dos Ventos Uivantes
(1939), O Galante Aventureiro (1940)
e Os Melhores Anos de Nossas Vidas
(1946).
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Todas as ruas de Nova York terminam em um rio |
Formar o elenco não
foi difícil. A atriz principal seria Sylvia Sidney (1910-1999), que se
especializou em interpretar sempre a boa moça, a fiel esposa, humilde e
trabalhadora. O “mocinho” seria Joel McCrea (1905-1990), ator fixo de Goldwyn.
Humphrey Bogart (1899-1957) fora escalado após James Cagney (1899-1986) ter
sido negado pela Warner e após George Raft (1901-1980) dizer não. Goldwyn
apostou em Bogart após vê-lo como um gângster ideal em A Floresta Petrificada no ano anterior. Os únicos que atuaram na peça
e repetiram o papel nas telas, interpretando os jovens delinquentes, foram
Billy Halop (1920-1976), Huntz Hall (1920-1999), Bobby Jordan (1923-1965), Leo
Gorcey (1917-1969) Gabriel Dell (1919-1988) e Bernard Punsly (1923-2004). O
sucesso da peça, assim como o sucesso do filme, foi tanto que imortalizou os
jovens como a gangue “Dead End Kids”. No ano seguinte, o grupo foi contratado
pela Warner, onde estrelaram uma série de filmes de gângsters que incluem; Anjos de Cara Suja (1938), No Limiar do Crime (1939), Tornaram-me um Criminoso (1939) e Sucursal do Inferno (1939).
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The "Dead End Kids" |
Beco Sem Saída se
inicia com o seguinte prólogo; “Todas as
ruas de Nova York terminam em um rio; durante muitos anos, as casas dos mais
pobres cobriam as sujas margens do East River. Quando os ricos descobriram a
bela paisagem que oferecia o tráfego fluvial, construíram suas casas voltadas
para o leste, agora, as varandas dos grandes edifícios dão para as janelas dos
edifícios pobres.” Após essa introdução, a câmera de Toland, que vale
lembrar, foi o responsável pelas fotografias de Os Miseráveis (1935), Vinhas
da Ira (1940) Cidadão Kane (1941)
entre tantos outros, desce do alto dos imponentes edifícios de Manhattan para
os becos sem saída que vão dar nos cais da cidade. Nesses becos vive uma gangue
de garotos (Dead End Kids) para quem não existe a lei e nem limites, e é para
esse beco que regressa, após anos distante, o gangster Martin “Baby Face”
(Bogart) e seu comparsa Hunk (Jenkins). Martin volta ao beco no intuito de
rever sua velha mãe (Main) e Francey (Trevor), sua antiga e inesquecível
paixão. Entretanto, após ser desprezado pela mãe e se decepcionar com a ex
namorada, Martin encontra problemas com o amigo de outrora Dave (McCrea), que o
reconhece mesmo após uma cirurgia plástica.
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Dave, Drina e Tommy |
Beco sem Saída
estreou nos Estados Unidos no dia 24 de agosto de 1937 e foi um sucesso de
critica e de público. Na 10º cerimônia do Oscar, em 1938, o filme concorreu aos
prêmios de melhor filme, melhor atriz coadjuvante (Trevor em uma atuação de
pouco mais de cinco minutos), melhor fotografia e melhor cenografia, para os
excelentes cenários de Richard Day (1896-1972), que anos mais tarde contribuiu
significativamente para a história do cinema construindo os brilhantes e incrivelmente
reais cenários de Como Era Verde Meu
Vale (1941), Uma Rua Chamada Pecado
(1951) e Sindicato de Ladrões (1954).
Infelizmente o filme de Wyler não venceu nenhum prêmio, pois a concorrência
estava afiada naquele ano, cujo melhor filme foi A Vida de Emile Zola, da Warner. Além dos garotos que se
imortalizaram como os Dead End Kids e os incríveis cenários de Richard Day, merecem
destaque também nesse excelente filme de gângster a sensível participação de
Marjorie Main (1890-1975) como a sofrida mãe de Martin e a tocante trilha
sonora do mestre Alfred Newman (1901-1970) que sem dúvidas tornaram o filme
ainda mais célebre.
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Os delinquentes do beco |
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Martin recebe o desprezo da mãe |
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e sofre uma amarga decepção ao reencontrar a antiga paixão |
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Drina aconselhando o irmão rebelde |
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Drina e Tommy família desajustada |
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Sylvia Sidney em foto publicitária |
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Claire Trevor, coadjuvante de peso |
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Joel McCrea, astro nº 01 de Samuel Goldwyn |
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Cartaz original do filme |
Excelente texto, e maravilhoso primeiro parágrafo, em que você conta sobre a origem do filme como peça de teatro. Ainda não o vi, mas Sylvia e Joel, apesar de não estarem em meu Top 10, são sempre ótimos de se ver.
ResponderExcluirAbraços!
Lê
Nossa Jefferson, este é antigo mesmo.........Apesar de não ter visto este filme,aprecio deveras o time de atores.Grande abraço.Su
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